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Tuesday, March 6, 2012

A dura arte de retornar à terrinha


Sempre acompanhamos as histórias de quem deixou o Brasil e foi tentar sua vida em outro país, mas raramente vemos registrada em blog, a volta dos que foram.
Segundo esta reportagem, 20% dos brasileiros vivendo nos Estados Unidos e 25% dos brasileiros vivendo no Japão já retornaram ao Brasil de mala e cuia por causa da recessão naqueles paises e do bom desempenho da economia brasileira. No entanto, estas pessoas têm enfrentando dificuldades enormes para se readaptar ao Brasil e a se recolocar no mercado de trabalho. A dificuldade é tamanha que o Itamaraty lançou um "Guia de Retorno ao Brasil", distribuído nas embaixadas.

A mesma reportagem cita relatórios que demonstram que a adaptação do brasileiro no exterior demora em média 6 meses. Acredito que seja pelo fato de sairmos com a mente aberta e prontos a encarar as dificuldades. Porém, o contrário não é verdade. Ao retornar ao Brasil, o brasileiro demora at' 2 anos para se readaptar. Enquanto esta no exterior, ele vive uma utopia e vê seu país de uma forma ilusória. Ao pisar no Brasil, não somente  ele, mas amigos e famílias também mudaram bastante durante o tempo em que ele esteve fora e este choque tem bastante impacto em sua adaptação.

Eu vivi isso na pele quando, em 1989, após viver quatro anos na Bolívia, eu retornei ao Brasil. Apesar de adolescente (retornei ao 14 anos), foi muito difícil me adaptar à forma como as pessoas viviam. Eu não sabia como me comportar diante das coisas mais simples, como cumprimentar uma pessoa, por exemplo. Um beijo no rosto, 2, 3, um aperto de mãos?

Imagine que depois de dez anos vivendo no Canadá, por exemplo, você resolva voltar ao Brasil e tenha que começar do zero outra vez: abrir conta em banco, arranjar um lugar para morar (sem ter um emprego ainda), renovar ou tirar carteira de habilitação, matricular os filhos na escola e arranjar uma faxineira de confiança. Hahaha Desculpem-me, mas eu não podia perder a oportunidade. 100% dos brasileiros que conheço que voltaram ao Brasil se queixam de como está caro conseguir uma faxineira quando eles nunca sequer cogitaram essa possiblidade enquanto estavam no Canadá.

Enfim, a volta pode ser mais dura do que se pensa e a readaptação é com certeza um processo longo e penoso.
Será que depois de passar por tantas dificuldades para se adaptar em outro país vale a pena passar por dificuldades ainda maiores ao retornar ao Brasil (some-se a isso corrupção, violência, trânsito infernal e o famoso "jeitinho brasileiro")?

Tuesday, November 1, 2011

Pobre brasileiro x pobre canadense


Estava cá pensando com meus botões sobre  os pobres brasileiros e como eles se relacionam com as demais classes sociais e vice-versa. Para ilustrar, vou contar um fato que ocorreu comigo no meu primeiro mês aqui no Canadá. Vocês sabem que a gente chega aqui completamente sem noção de nada e, felizmente, sempre aparece alguma alma boa para nos orientar. Pois bem, fomos a um churrasco beneficente do Centro Cultural Brasil-Angola, em agosto de 2007. Chegando lá, não sabíamos exatamente o que fazer ou aonde ir, quando eis que um rapaz muito simpático nos cumprimenta e nos explica o que fazer para pegar comida e bebida. 

Pela aparência e pelo modo de falar, deduzi que aquele rapaz humilde e simpático não tinha muita instrução acadêmica e nem muitas posses materiais. No decorrer da conversa eles nos contou que estava trabalhando na construção aqui em Toronto (e nas entrelinhas nós deduzimos que ele estava aqui ilegalmente). Ele, muito solícito, disse que se quiséssemos, ele poderia arranjar um emprego na construção para Capachinho. Capachinho agradeceu muito educadamente e disse que estava procurando emprego em outra área. O rapaz perguntou então que área essa essa porque para determiados trabalhos é necessário ter "documentação" (ou seja, estar no país legalmente). Capachinho sorriu e respondeu que ele era um web developer e estava procurando um emprego na área de informática.

A expressão no rosto do simpático rapaz mudou repentinamente. Imediatamente, ele pediu licença e saiu para longe,  talvez envergonhado pela proposta que havia feito a pessoas que não era do mesmo "meio" dele. Daquele momento em diante, não conseguimos mais nos aproximar dele porque ele nos evitava veementemente. 

Este acontecimento sempre me faz pensar bastante, e me leva a concluir que talvez o pobre brasileiro conheça "seu lugar" na sociedade. A faxineira, o pedreiro, ou o motorista de ônibus, todos eles respeitam uma barreira invisível existente entre eles e os que tiveram oportunidade de estudar. Eles se colocam (ou são colocados?) em uma posição inferior não só em relação ao seu conhecimento ou a situação financeira, mas também como ser humano. É como se eles não fossem dignos de ter os mesmos direitos que aqueles que têm o que eles nunca tiveram por pura falta de oportunidade. E         quer saber? Às vezes parece que está tudo bem. Mas como assim?

Acredito que essa resignação seja herança dos nossos tempos de 'casa-grande e senzala', em que todos deviam obediência ao senhor (nos só empregados, mas membros familiares também), que tinha, literalmente, a vida de seus escravos nas mãos. Cabia a ele decidir quem iria viver e quem iria morrer. A obediência incondicional, aliada ao trabalho duro e exaustivo sem nunca se queixar, aumentavam as chances de um escravo evitar o tronco e permanecer vivo.

A escravidão foi abolida, mas a mentalidade escravocrata e paternalista não. Os pobres, assim como os antigos escravos, sempre foram vistos como seres inferiors e devedores de obediência e respeito aos seus 'superiores', como no ditado Manda quem sabe, obedece quem tem juízo.

Séculos se passaram e o Brasil mudou muito pouco. A elite, descendente daqueles senhores, carrega consigo a herança cultural dos tempos de colônia, pagando o mínimo possível aos seus empregados, e tratando-os como inferiores. O pobre se acostumou tanto a essa situação, que às vezes temos a impressão de que ele nem percebe esse tratamento.

Aí você vem para o Canadá e conhece um outro conceito de pobreza. Você aprende que não é vergonhoso ter um trabalho braçal. Aliás, o trabalho braçal é, muitas vezes, uma escolha e não uma falta de opção.

Você faz amizades com pessoas que nunca fariam parte do seu círculo social no Brasil. Você conhece um vendedor de loja que fala 3 línguas e viajou o mundo todo; um pintor que mora em uma casa com piscina e jacuzzi e que é 3 vezes maior que seu minúsculo apartamento. Como se não bastasse, esse mesmo pintor diz ter um filho formado em jornalismo, que terminou a faculdade e foi fazer um curso de encanador porque dava mais dinheiro. Sim, seu mundo vira de cabeça para baixo. Quem é quem nessa história?

Passado o espanto, você passa a se sentir bem por viver em uma sociedade menos desigual onde as pessoas têm oportunidades iguais, independentemente de sua cor, religião, ou origem social.
Ao voltar ao Brasil, você fica chateado por ver as pessoas divididas em 'bolhas' , como se fosses castas sociais; mas você fica mais chateado ainda ao ver que esses pobres realmente vivem em um outro mundo diferente do seu e todos acham que isso é assim mesmo e que não há como mudar. 
Entristece ver que que a mentalidade exploratória de nossos colonizadores que chegaram ao Brasil querendo retirar o máximo que aquela terra pudesse fornecer (recursos naturais e humanos) continua até hoje. Os sofridos índios de outrora são os pobres de hoje.

Sunday, April 3, 2011

Custo de Vida Toronto x Rio de Janeiro

Achei esse link lá no Canadiando comparando o custo de vida em Toronto e no Rio de Janeiro. Alguns resultados são bem interessantes.

Restaurants RJTorontoDifference
Meal, Inexpensive Restaurant 12.04 C$     10.60 C$      -11.94 %
Meal for 2, Mid-range Restaurant, Three-course 46.41 C$     41.66 C$      -10.23 %
Combo Meal at McDonalds or Similar 9.20 C$     6.82 C$      -25.88 %
Domestic Beer (0.5 liter draught) 1.20 C$     4.84 C$      +303.22 %
Imported Beer (0.33 liter bottle) 2.41 C$     6.01 C$      +149.47 %
Coke/Pepsi (0.33 liter bottle) 1.53 C$     1.48 C$      -2.86 %
Water (0.33 liter bottle) 1.17 C$     1.43 C$      +22.28 %
Markets
Milk (regular), 1 liter 1.22 C$     2.63 C$      +115.71 %
Loaf of Fresh Bread 1.94 C$     2.57 C$      +32.71 %
Eggs (12) 1.59 C$     3.24 C$      +104.39 %
Fresh Cheese (1kg) 7.39 C$     12.86 C$      +74.00 %
Chicken Breasts (Boneless, Skinless), (1kg) 5.15 C$     8.35 C$      +62.11 %
Water (1.5 liter bottle) 0.91 C$     1.96 C$      +114.80 %
Bottle of Wine (Mid-Range) 8.64 C$     14.75 C$      +70.72 %
Domestic Beer (0.5 liter bottle) 1.54 C$     2.73 C$      +77.54 %
Imported Beer (0.33 liter bottle) 2.51 C$     3.36 C$      +34.00 %
Pack of Cigarettes (Marlboro) 3.67 C$     10.77 C$      +193.59 %
Transportation
One-way Ticket (local transport) 1.29 C$     2.84 C$      +120.61 %
Monthly Pass 92.95 C$     112.92 C$      +21.48 %
Taxi (5km within center) 14.13 C$     10.96 C$      -22.42 %
Gasoline (1 liter) 1.54 C$     1.04 C$      -32.46 %
Volkswagen Golf 1.4 90 KW Trendline (Or Equivalent New Car) 32,528.54 C$     20,387.41 C$      -37.32 %
Utilities (Monthly) [Edit][Edit]
Basic (Electricity, Gas, Water, Garbage) 58.00 C$     177.02 C$      +205.19 %
1 min. of Prepaid Mobile Tariff (no discounts or plans) 0.28 C$     0.20 C$      -30.10 %
Internet (4 Mbps, Flat Rate, Cable/ADSL) 45.75 C$     51.10 C$      +11.71 %
Sports And Leisure
Fitness Club, Monthly Fee for 1 Adult 140.34 C$     71.14 C$      -49.31 %
Tennis Court Rent (1 Hour on Weekend) 15.00 C$     36.13 C$      +140.96 %
Cinema, International Release, 1 Seat 10.43 C$     12.03 C$      +15.28 %
Clothing And Shoes
1 Pair of Levis 501 115.35 C$     69.89 C$      -39.41 %
1 Summer Dress in a Chain Store (Zara, H&M, ...) 63.44 C$     61.00 C$      -3.85 %
1 Pair of Nike Shoes 184.57 C$     112.67 C$      -38.95 %
1 Pair of Men Leather Shoes 152.84 C$     137.90 C$      -9.78 %
Rent Per Month
Apartment (1 bedroom) in City Centre 942.97 C$     1,262.46 C$      +33.88 %
Apartment (1 bedroom) Outside of Centre 542.39 C$     907.55 C$      +67.32 %
Apartment (3 bedrooms) in City Centre 1,954.29 C$     2,211.01 C$      +13.14 %
Apartment (3 bedrooms) Outside of Centre 1,235.89 C$     1,532.99 C$      +24.04 %
Buy Apartment Price
Price per Square Meter to Buy Apartment in City Centre 3,979.07 C$     4,614.56 C$      +15.97 %
Price per Square Meter to Buy Apartment Outside of Centre 2,722.79 C$     3,243.53 C$      +19.13 %
Salaries And Financing
Median Monthly Disposable Salary (After Tax) 1,132.41 C$     3,503.10 C$      +209.35 %
Mortgage Interest Rate in Percentages (%), Yearly 7.00     4.32      -38.30 %

Friday, March 25, 2011

Você tem saudade de quê?

Ser imigrante é ter o coração divido entre lá e cá. É abdicar de algumas coisas para ganhar muitas outras mais. É reaprender de uma forma diferente tudo o que já se sabe. Ser imigrante é também ter que lidar com a saudade e a falta de coisas e pessoas que nos são caras. Saudade nunca acaba, só fica diferente.
Muita gente não aguenta conviver com a saudade e a falta da zona de conforto que tinha em seu país, então decide voltar. E não tem nada de mal nisso não. Cada um tem que buscar ser feliz, aqui ou lá.

Acho que o período mais difícil são os primeiros 6 meses em um país diferente. Você não conhece ninguém, tudo é diferente e novo, o que tem seu lado bom e ruim. A saudade aperta tanto que até dói. Aí você arranja um emprego, faz novos amigos, começa a explorar a cidade e sua vida adquire novamente uma rotina que te ajuda a esquecer um pouco da saudade.

Quando cheguei aqui eu sentia mais falta da comidinha do Brasil do que da minha família, pois eu já vivia longe deles há muitos anos. Geralmente nos víamos uma ou duas vezes por ano e eu telefonava para minha mãe quase todo dia. Senti bastante falta desses telefonemas diários (ainda sinto), mas não ter aquela comidinha gostosa que me trazia boas lembranças era a parte mais difícil para mim.

Com o tempo fui conhecendo restaurantes e comidas de todas as partes do mundo. Meu paladar mudou, comecei a cozinhar (ou pelo menos tentar) e hoje já não sinto tanta falta da comida, além de coxinha, pão de queijo de padaria e outras guloseimas, mas a saudade da família e dos amigos tomou o primeiro lugar.

De vez em quando sinto saudade dos lugares que eu frequentava em São Paulo, de passar uma tarde inteira na livraria Cultura ou na Fnac, de tomar um cafezinho com leite na Kopenhagen ou no Franz Cafe, mas logo passa.
Tenho certeza de que se eu voltasse para o Brasil de vez também sentiria muita falta de várias coisas daqui, principalmente da qualidade de vida, para não falar na tranquilidade de andar nas ruas. Mas isso é uma coisa com a qual eu não preciso me preocupar porque não tenho intensão nenhuma de sair daqui. Aqui é meu lugar.

E você, tem saudade do quê?