Não é de hoje que a mulher brasileira é conhecida por sua beleza. Também não é novidade sua obsessão em busca de uma beleza perfeita mostrada em filmes e revistas. Com a vulgarização do Photoshop, esta beleza "perfeita" tornou-se ainda mais inatingível, levando muitas adolescentes para a mesa de cirurgia plástica em casos bem-sucedidos, e sabe-se lá para onde em caso contrário. A obsessão é tamanha que, segundo um estudo que li há algum tempo, cerca de 130 mil crianças (sim, você leu crianças) e adolescentes se submeteram a algum tipo de cirurgia plástica em 2009.
No entanto, os hábitos alimentares destas mesmas crianças e adolescentes não contribuem para a manutenção de uma silhueta magra. Os fast foods e as comidas industrializadas, cheias de conservantes e outros produtos químicos, têm criado uma sociedade obesa. Junte-se a isso a quase total ausência de atividade física. Não é de surpreender que cirurgiões plásticos andem tão ocupados.
Sendo mulher e não fazendo parte do grupo que veste 36/38 (a vida inteira fiquei entre 40/42, chegando a 46/48 em uma época em que fiquei doente), sempre senti esta cobrança de ser magra; cobrança esta que não vem somente dos outros, mas de mim também, afinal, foi assim que fui criada. Com apenas alguns dias no Canadá percebi que aqui é um pouco diferente. A começar pelas repórteres na TV e as moças (já nem tão moças assim) que anunciam a previsão do tempo. No primeiro caso, é comum ver repórteres bem acima do peso aparecendo no horário nobre na TV. Quanto às moças da previsão do tempo, muitas já estão na casa dos 40 anos. Quando é que você vê este tipo de coisa na TV brasileira, principalmente na Globo? Jamais! Todo mundo é magro, jovem, e bonito na TV. Se não for magro, em pouco tempo as emissoras dão um jeito de cortar as gordurinhas extras. Quem aí se lembra da Angelica, na Manchete, e da Ana Maria Braga, na Record? Ambas devem ter perdido mais de 30 quilos juntas ao irem para a Globo.
Nas ruas de Toronto é comum encontrar pessoas obesas de todas as idades. Algumas com mais idade (mais de 40 anos, eu diria), chegam a andar em um tipo de scooter porque não conseguem mais sustentar o peso do próprio corpo. Não é difícil encontrar estas mesmas pessoas fazendo refeições diárias em redes de fast-food, regadas a refrigerante de tamanho extra grande. Sempre ouço dizer que nos Estados Unidos a situação é ainda pior. O que acontece com estas pessoas? Onde está o culto ao corpo? Será que ele é preocupação exclusiva das brasileiras?
Na verdade, não. Percebi que na América do Norte, em geral, as pessoas são mais relaxadas com a aparência e que o conceito de " magro" para eles é diferente do conceito brasileiro. Aqui, por exemplo, ninguém diz que estou gorda ou acima do peso, mas quando vou ao Brasil, minha própria família diz que seria bom eu perder alguns quilos. Para ficar magra do jeito que eles acham que deve ser, eu deveria perder uns 10 quilos, e desta maneira entrar em uma calça 38. Se eu decidisse trabalhar na TV, provavelmente teria que perder mais uns 10 quilos.
Parece simples falar, mas é muito difícil romper paradigmas. Felizmente, moro em um país com menos cobranças, e quando digo que estou gorda, mais do que prontamente escuto "You look great". É, talvez eu esteja ótima mesmo e essa coisa de gordurinha em excesso é coisa que colocam na sua cabeça (e na sua barriga, pernas, coxas, e onde mais couber).
;)
4 comments:
muito legal seu post. eu tb senti um apego menos exagerado com a aparencia no canada. principalmente quando o inverno bateu forte e vc nao diferenciava rico de classe media pois os casacos pareciam todos a mesma coisa (talvez nao fossem, mas pareciam)
aqui é diferente, tenho uma amiga que nunca foi em shopping, pois ela acha que não tem roupa apropriada.
mas fiquei com uma duvida.
em 5 meses em montreal e região, eu vi UMA mulher obesa. UMA. Como seu sou gordinha, comecei a reparar, comprei roupa em loja especializada e nao vi obesa em nenhuma loja, gordinha eu vi, obesa não.
será que é uma coisa do quebec ou será que é uma coincidencia enorme???
Na boa, aqui me libertei por completo de vários préc-conceitos estabelecidos pela sociedade brasileira e outros pela minha própria família.
Como eu sempre fui considerada a "diferente" lá em casa, aqui eu me sinto bem, faço parte do meio e AMO ver pessoas "diferentes", tanto quanto eu.
Adorei o post!! Dá mais vontade ainda de ir embora...
Vc já viu esse texto da Adriana Setti? Li agora e lembrei do seu post, resolvi te passar.
http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2010/12/03/a-escravidao-da-forma-fisica-entre-as-brasileiras-e-encarada-com-pena-pelas-mulheres-na-europa/
Beijos,
Lu
Lulibel, muito legal o post. Obrigada por compartilhar.
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